O LIVRO DO DEUTERONÔMIO
Deixe um comentário3 de setembro de 2020 por Ir. Mercedes Lopes - MJC
Neste ano de 2020, a CNBB escolheu o Livro de Deuteronômio para o estudo mês da Bíblia. O lema escolhidoe foi: Abre tua mão ao pobre (Dt 15,8). Para compreender toda a importância desse lema, precisamos acompanhar a história do povo da Bíblia e contexto em que surgiu o livro do Deuteronômio. Então, vamos descobrir que muito antes de ser um livro da Bíblia o Deuteronômio foi um movimento Deuteronomista, iluminado pelos profestas. Começou no Reino do Norte, chamado Israel. Lá, a monarquia incentivou o antigo culto a Baal, para justificar o empobrecimento do povo, porque os reis de Israel pagavam altos tributos ao império assírio com o trabalho dos pobres. O movimento deuteronomista resistia a esse desgoverno, fazendo memória da Aliança do povo com Javé, o Deus Libertador do Êxodo. Quem animou esse movimento no Reino da Norte foram os profetas Elias, Eliseu, Amós e Oseias. Eles faziam memoria dos Dez Mandamentos (Ex 20,1-21) e denunciavam a infidelidade dos reis de Israel pelas alianças com a Assíria e o Egito, para obter riquezas e poder. No meio do povo, ficavam as memórias dos costumes e tradições populares do tempo do tribalismo. Nesse contexto, o povo foi se enfraquecendo e a Assíria destruiu o Reino do Norte, em 722 a.C. Alguns sobreviventes fugiram para o Reino do Sul, chamado Judá, trazendo a profecia inspirada na releitura da Lei de Deus e na história do povo. No Reino do Sul, o rei Ezequias acolheu os fugitivos e iniciou uma reforma tentanto evitar o desastre que aconteceu no Reino do Norte, Israel. O objetivo principal dessa reforma era impedir o aumento da pobreza e a dispersão do povo de Deus. A mistica dessa reforma continuava a ser profética. Miqueias, Isaías, Jeremias se fundamentavam na Lei de Deus e no seu amor pelo povo para animar a caminhada. Mas, a reforma deuteronomista foi interrompida pelo rei Manassés. O rei Josias retomou a reforma, mas foi assassinado. Outro grande império destruiu a Assiria e ameaçava Israel. O profeta Jeremias tentou avisar o povo sobre o perigo da Babilônia. Não escutaram Jeremias, o prenderam e maltrataram. Veio o exército da Babilônia e destruiu Jerusalém, levando para o exílio os nobres e artesãos. No exílio da Babilônia, durante 50 anos, os exilados se perguntavam: Qual foi o nosso erro? E a resposta que encontravam era somente religiosa: foi a idolatria. De volta à Judá, os chefes e sacerdotes aceitaram a colonização persa e pagavam altos tributos à Pérsia, empobrecendo o povo. A culpa não era só da idolatria, pois havia em Judá judeu que explorava e escravizava seu irmão judeu. Esqueceram que a tributação enviada para o rei da Pérsia e as relações internas em Judá eram a causa principal do empobrecimento do povo (Ne 5,1-5). Foi nessa época, de Neemias e Esdras, que o Livro do Deuteronômio foi editado. Um livro muito longo, com trinca e quatro capítulos. Os editores finais deram ao livro a forma de três discursos de Moisés, para resgatar a Aliança do povo com Javé, o Deus dos pobres.
No mês da Bíblia desse ano, o foco do aprofundamento está no capítulo 15, onde se encontra a frase: “Abre tua mão ao pobre” (Dt 15,8). Este chamado para a partilha solidária com os pobres em tempo de tanto desemprego é muito importante. Mas, a história do livro, desde seu início até sua edição final tem, como pano de fundo, injustiças e concentração de riquezas. Elas causaram o empobrecimento do povo e sustentaram impérios como a Assíria, a Babilônia e a Pérsia. Sim, todos somos irmãos e irmãs e “entre nós não pode haver pobres” (Dt 15,7-14). Mas, seria interessante perguntar, também: Por que há tantos pobres em nosso meio? Quais as causas do empobrecimento do povo, hoje em dia?